O Memória Musical do Sudoeste da Bahia, projeto de pesquisa, fomento e preservação independente sobre a musicalidade da nossa região, criado e mantido pelo músico e historiador Plácido Oliveira [Distintivo Blue] acaba de finalizar a primeira temporada do Toca Autoral!, subprojeto multimídia de incentivo aos músicos locais para que invistam em suas próprias criações e as disponibilizem ao público. “Atualmente vivemos em uma era de excessiva valorização da nostalgia, onde o chamado ‘retrô’ parece invadir todos os aspectos da cultura. Assim, no contexto da música, há uma verdadeira explosão dos chamados ‘shows-tributo’, fazendo com que os músicos se sintam desestimulados a mostrar suas canções. O título ‘Toca Autoral!’ é uma referência direta ao “toca Raul!’, símbolo da música cover no Brasil. Nosso projeto também sinaliza uma forma de resistência a esse ‘mercado da nostalgia’ para dizer: ‘o passado possui, sim, esse aspecto aconchegante, típico da nostalgia, mas vivemos é no presente. Escutemos, também, o que nossos artistas têm a dizer atualmente’”, explica o idealizador.
A primeira temporada do Toca Autoral! Reuniu três músicos locais, de diferentes gerações e contextos: Paul Bergeron é um californiano que escolheu viver com sua família em Vitória da Conquista e traz canções em inglês, com forte influência do rock clássico dos anos 1950 e 60; Náufrago Urbano é um jequieense que encontrou também em Conquista um cenário mais atrativo ao seu estilo musical e de vida. Suas referências vêm do rock brasileiro das décadas de 1980 e 90; Weldon França é um experiente músico Iguaiense que se considera conquistense e iniciou-se na música ao final dos anos 1980, acumulando vasta gama de parcerias em todo o Brasil e no exterior. O local de execução do projeto foi o teatro do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima.
O projeto realizou, em três ocasiões, a gravação em vídeo e áudio de seis músicas autorais de cada participante. Os vídeos foram disponibilizados em duas versões: músicas isoladas, para facilitar o acesso e a divulgação das obras, e integradas ao vídeo completo de cada artista, com cerca de 40 minutos de duração. Esta versão inclui uma fala autobiográfica e outras seis pequenas falas explicativas para cada canção. Todo o conteúdo em vídeo já foi publicado no canal do Memória Musical do Sudoeste da Bahia no YouTube, em playlists dedicadas [links ao final do texto]. Já o áudio foi publicado em forma de EP (Extended Play), um intermediário fonográfico entre o single (músicas lançadas isoladamente) e o álbum (formato popularizado pelo disco de vinil, a partir da década de 1960, contendo, geralmente, a partir de 8 faixas). Os três EPs, contendo 6 faixas cada, já estão disponíveis nas principais plataformas de música, como Spotify, Apple Music, Amazon, dentre outras.
Para além do áudio e vídeo, aproveitando o cenário, foram realizadas sessões de fotografia com cada um dos participantes, com o objetivo de fornecer material para sua própria divulgação, reconhecendo a carência geral, na música independente, de iniciativas básicas de autopromoção: “por incrível que pareça, tenho percebido, em minhas pesquisas, que a grande maioria dos artistas não parece se preocupar com elementos básicos de divulgação e preservação do próprio trabalho, como fotos promocionais, um release bem escrito ou até mesmo o guardar uma cópia do seu próprio trabalho, quando se consegue gravar e lançar algo. Os desafios do ‘ser músico’ são grandes e boa parte pode ser superada apenas voltando-se às deficiências em si mesmo(a)”, enfatiza Plácido, também pesquisador do music business.
O Toca Autoral! Gerou inúmeras publicações em texto no site do Memória Musical do Sudoeste da Bahia, incluindo a história do projeto, as transcrições das falas dos artistas, as letras de todas as canções, algumas cifradas, para incentivar ainda mais a conexão entre os artistas e o público, as fotografias, links paras as redes sociais dos participantes e o produto final da temporada: a edição especial da zine Memória Musical do Sudoeste da Bahia, com dezesseis páginas, disponibilizada gratuitamente em formato pdf. A ideia é viabilizar também a versão impressa, como a zine regular, mas a dificuldade é financeira: “todo o projeto do ‘Memória’ é realizado com recursos próprios. Não há condições de arcar com mais este custo sem apoio externo, sendo que há demandas mais urgentes, como a manutenção dos computadores, câmeras e microfones, a compra de mais HDs externos, o domínio do site, dentre muitos outros. Infelizmente, a versão física da zine terá de esperar por esse apoio, uma vez que os artistas também não dispõem de recursos para isso. Uma tiragem de 500 cópias já seria suficiente”. A participação dos artistas, importante ressaltar, foi totalmente gratuita e todo o material produzido foi disponibilizado gratuitamente ao público.
A primeira temporada do Toca Autoral! Chegou ao fim com a publicação da zine, em 16 de junho. Em nove meses de trabalho, foram gerados: 124,94 minutos de vídeos completos (2:08h); 75 minutos de vídeos soltos (1:26h); 61 fotos editadas e disponibilizadas gratuitamente aos artistas e ao público; 138 GB de arquivos; 1:09h de fonogramas, através de 18 faixas, em 3 EPs; 1 zine (16 páginas), disponibilizada em formato para leitura digital e para impressão. Todo o material também servirá de objeto de estudo científico, gerando artigos, resumos e outras análises que serão publicadas em periódicos, eventos e outras plataformas de divulgação científica. A previsão para início dos trabalhos da segunda temporada é para o final de 2023, ampliando o número de participantes e utilizando outro espaço de grande relevância cultural para a cidade, mais uma preocupação do projeto, que também objetiva a sua valorização, apresentando o cenário como mais uma personagem presente a ser (re)descoberto pela comunidade.
Confira, abaixo, os links para todo o material gerado pelo projeto:
VÍDEOS
EPS (áudios)
FOTOGRAFIAS
TEXTOS
ZINE
Versão digital e para impressão
ENTREVISTAS
Paul Bergeron e Plácido Oliveira [UESB FM]
Plácido Oliveira [Rádio Câmara]
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