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No maior São João do mundo: a tristeza do forrozeiro, das artes e do forró

Por Dirlêi A Bonfim*

Ao iniciar esse ensaio, depois de muitas leituras, pesquisas, tristeza e indignação... Ao tratamento dispensado e oferecido a um Grande Artista, no seu Estado de origem, mas não apenas, à sua Música, sua Obra, sua Biografia sua História... Pelo constrangimento da Arte do Artista e do (Forró), diante do público, pelos caprichos de outrens, um artista codinome/denominado (G.L), lastreado por empresas de produção de eventos e a máfia do (jabá). Jabaculê, ou simplesmente jabá, é um termo utilizado na indústria da música brasileira para denominar uma espécie de suborno em que gravadoras pagam a emissoras de rádio ou TV pela execução de determinada música de um artista.

A terra do maior São João do Mundo, Campina Grande, é o maior município do interior da Paraíba, distante 120 km da capital e com uma população de cerca de 400 mil habitantes, localizada na região oriental do Planalto da Borborema, a uma altitude de 550 metros acima do nível do mar, numa área de 970 km2. A cidade exerce forte influência política e econômica sobre o compartimento da Borborema, subdivisão político-geográfica do estado da Paraíba constituída por cinco microrregiões conhecidas como Agreste da Borborema, Brejo Paraibano, Cariris Velhos, Seridó Paraibano e Curimataú, reunindo mais de 60 municípios e cerca de um milhão e meio de habitantes. Toda área se situa no agreste paraibano, entre o litoral e o sertão. A festa de São João em Campina Grande, na Paraíba, “o maior São João de mundo”, de sexta-feira (2), foi marcada com uma polêmica por conta do desabafo de um dos artistas que se apresentou no palco do festival. 

Flávio José, cantor e compositor de forró, disse ter tido seu tempo de show reduzido para que o sertanejo (G.L), que se apresentou depois dele, tivesse uma apresentação maior. Flávio se apresentou por uma hora, enquanto o show do cantor sertanejo teve duas horas e meia. Disse Flávio José: “Se ficar alguma música do repertório que vocês estão pensando em ouvir, e não vão ouvi, a culpa não é minha. Eu não tenho nenhum show para sair daqui correndo para fazer. Não foi uma ideia minha, entendeu? Infelizmente, são essas coisas que os artistas da música nordestina sofrem”, desabafou Flávio José de cima do palco. O vídeo com a lamentação do forrozeiro, que é da Paraíba e tem mais de 60 anos de carreira, viralizou com mensagens inconformadas com o tratamento dado ao artista. 

A festa de Campina Grande este ano completa 40 anos. E já está marcada pela melancolia, pela tristeza e constrangimento a que submeteu um dos Artistas Fundadores da Festa. “Eu falo com tranquilidade que não há forró sem Flávio José. Ele é incontornável. É um dos nomes GIGANTES do gênero. Ser diminuído em pleno São João é uma coisa que não dá pra engolir” e no seu Estado, na sua Terra. Isso é no mínimo uma Falta de Respeito gigantesca, com a ARTE, com o ARTISTA, com o FORRÓ e com todos”... Ainda, bastante triste e abalado vai dizer o Flávio José... “Não tenho nada contra nenhum artista, nada contra nenhum sertanejo. Acho que tem espaço para todos. No céu cabem todas as estrelas, ninguém atropela ninguém. Porém, eu não canto na festa de [Barretos, ou em Goiânia]. Dominguinhos também não cantava. A festa é deles, dos “sertanejos”. “Eles têm bem essa coisa, ‘essa área é nossa”. Aí quando chega aqui no São João, em Campina Grande, não ter o Biliu de Campina, não ter Alcymar Monteiro...? “Reclamei bastante. Não ter os trios do verdadeiro Forró Pé de Serra.  “Gente, essa é nossa história. “Quando chega o São João se não tiver forró eu não quero [ir]”, porque, é muito simples, Festa de São João, sem Forró, sem as referências de Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda... Não é São João, sem esses nomes de  referências, não é São João”. “Portanto, me perdoem, quem não conhece a obra desses Artistas geniais”, quem não conhece a Obra, quem não os reconhece, é simplesmente lamentável, aliás tudo isso, é muito tosco e lamentável... Declarou, sobre a falta dos Artistas iniciantes do Forró de toda a região Nordeste do Brasil. 

As apresentações dos Trios de Forró Pé de Serra, na festa da cidade paraibana. Isso nos leva, a algumas reflexões sobre as letras/poemas de Ivanildo Vilanova e Bráulio Tavares(1984), em Nordeste Independente, quando vai nos encantar com a canção: “... E, entra ano, sai ano nada vem e o Sertão, continua ao Deus dará, então diante dessas circunstâncias todas. É que o Poeta Popular já tá fazendo músicas, coisas engraçadas evidentemente mas é mais ou menos assim:  Imagine o Brasil ser dividido e o Nordeste ficar independente. Então senhoras e senhores com vocês: Ivanildo Vila Nova, e Trupizupe  Bráulio Tavares o raio da silibrina. Já que existe no sul esse conceito. Que o nordeste é ruim, seco e ingrato. Já que existe a separação de fato. É preciso torná-la de direito. Quando um dia qualquer isso for feito. Todos dois vão lucrar imensamente. Começando uma vida diferente. De que a gente até hoje tem vivido. Imagina o Brasil ser dividido. E o Nordeste ficar independente. Segundo a Professora, Ana Chã (2019), no seu Livro: Agronegócio e Indústria Cultural – Estratégias das empresas para a construção da hegemonia. “A indústria cultural se relaciona com o agronegócio no sentido de trazer para o imaginário coletivo”... 

De alguma forma para que a sociedade, possa ter a ideia de que o agronegócio é o único modelo de agricultura possível para o campo brasileiro, com investimentos pesados em marketing... O agronegócio, se lança através dos veículos de comunicação de massa, para ter o domínio e hegemonia absolutos, se colocando acima do “bem e do mal”, acima de qualquer suspeita... Claro, para isso, vai pagando aqueles, que possam divulgar as suas propostas e levar o seu ideário a todos os públicos. Aos artistas que se predispõe a participar desse “negócio”. O agronegócio vem construindo, nas últimas duas décadas em especial, uma hegemonia no campo econômico e no campo político. Ao financiar as diversas campanhas de políticos ligados ao negócio da agricultura, assim, formando uma bancada de enorme de parlamentares que defendem os seus propósitos. Mas, além disso, eles vem se dedicando também a construir uma imagem do setor como algo imprescindível para o crescimento da economia brasileira e como proposta e projeto para o campo no Brasil. Assim, os cachês milionários de cantores sertanejos também trazem à tona relações com o agronegócio, com tudo que eles representam, o atraso, o retrocesso, a megalomania, o ataque grosseiro às questões ambientais, o ataque perverso aos povos originários e as terras indígenas demarcados, como possibilidade real e alavancar os seus negócios do agro. 

"Uma das linhas de atuação prioritárias do agronegócio continua sendo o marketing e a propaganda. Não necessariamente um marketing de produtos, mas um marketing do projeto, por isso eles têm campanhas gerais. Fica evidente o apoio de algumas das emissoras e meios comerciais, porque a própria rede globo do 'Agro é tech, agro é pop' faz parte da Associação Brasileira do Agronegócio, esquecem dizer na propaganda, que o “Agro é tóxico”, até porque, o negócio do Agro, são os maiores compradores de “veneno/agrotóxico” do Brasil e um dos maiores do mundo. Pois, como sabemos as áreas gigantes com a prática da “monocultura” seja do milho ou da soja, não sobreviveriam sem o uso exacerbado do agrotóxico. Não é que eles estejam sendo pagos para fazer publicidade, eles acreditam que esse é mesmo um projeto de país que a gente precisa ter, então eles mesmo montam a campanha. Com esse cuidado de criar uma estética que é bem parecida com a da rede globo, que foi aquilo que durante anos foi considerado sendo bonito, uma imagem limpa, colorida, com atores e atrizes ou a própria estética dos produtos muito bonitos. Isso também na rádio e internet, porque são vários veículos onde as campanhas circulam. 

Para o Compositor e Escritor Chico César (2019)... Na letra de “Reis do Agro negócio” “...Seu avião derrama a chuva de veneno. Na plantação e causa a náusea violenta. E a intoxicação de adultos e pequenos. Na mãe que contamina o filho que amamenta. Provoca aborto e suicídio o inseticida. Mas na mansão o fato não sensibiliza. Vocês já não tão nem aí com aquelas vidas. Vejam como é que o Agrobis desumaniza...”. Esse marketing cultural, desde que apareceu como uma política neoliberal de cultura, tem essa função definida de limpar a imagem das empresas que causam danos ao meio ambiente e à sociedade." Como dizem nas Festas de Barretos, que o agro, é um estilo cultural de vida robusta do campo, do agro que dá certo e promove divisas para o país e o resto, é o resto”. Como se a produção de alimentos no país, fosse uma atribuição única e absoluta das grandes empresas monopolistas ou apenas dos empresários do Agro. Quando na verdade, mais de 90% da produção brasileira de alimentos, vem da pequena agricultura, dos micro e pequenos agricultores, lavradores e trabalhadores rurais. 

Se faz, mais do que necessário, que todos nós sociedade brasileira, seja de nordestinos e não nordestinos, que fiquemos atentos com as questões trazidas pela Professora Ana Chã, no seu livro acerca do tema do Agronegócio e Indústria Cultural... E quão, essas associações de grandes grupos empresariais, parlamentares(do agronegócio), são perniciosas, perversas e criminosas, nas suas práticas abusivas monopolistas, ou oligopolistas de domínio de setores econômicos, sociais e culturais, numa trajetória de engodos, atrasos e retrocessos contra os anseios da sociedade. Vai dizer o Mestre Ariano Suassuna (1999), “...Que é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país da desigualdade, desinformação e dos despossuídos”. Ou ainda, o Mestre João Cabral de Melo Neto (1955), “... Morte e Vida Severina. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar, Severino de Maria e mais... 

No fim de um mundo melancólico, os homens lêem jornais. Homens indiferentes, me deram uma maçã para lembrar a morte. O brado dos Severinos, será sempre um brado forte. Brado do meu Nordeste que resiste e resistirá eternamente... É válido salientar e registrar, que diante dos fatos ocorridos no último dia  02 de junho 2023. Na festa de São João em Campina Grande, na Paraíba, “o maior São João de mundo”, os Artistas brasileiros, em especial nordestinos, ficaram entristecidos, constrangidos e indignados com o fato ocorrido com o Forrozeiro Flávio José e saíram na sua defesa num ato de solidariedade e manifesto público e toda a crítica, contra postura e a falta de respeito do dito senhor, “artista”, codinome/denominado (G.L), desrespeitoso, desqualificado, prepotente, presunçoso, desonesto, arrogante e maldoso. E vai cantar/poetizar/concluir, Flávio José e Petrúcio Antonio de Amorim, na Canção Poema: Tareco e Mariola  “... Eu não preciso de você, O mundo é grande e o destino me espera, não é você quem vai me dar na primavera. As flores lindas que eu sonhei no meu verão...  Você foi longe, me machucando provocou a minha ira. Só que eu nasci entre o velame e a macambira. Quem é você pra derramar meu mungunzá”...?


**contribuição do Professor DsC. Dirlêi A Bonfim, Doutor em Desenvolvimento Econômico e Ambiental,  Professor da SEC/BA**Sociologia** Plano de Formação Continuada Territorial – IAT/SEC/BA.06/2023.1**

Plácido Oliveira

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