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Toca Autoral! - Náufrago Urbano


Um dos principais objetivos do projeto de pesquisa independente Memória Musical do Sudoeste da Bahia [@memoriasudoeste], para além do simples acumular material sobre a música da nossa região, como qualquer museu, é incentivar os artistas através da produção original de conteúdo: pensar não apenas o passado, mas o hoje, o agora.

No subprojeto TOCA AUTORAL! não há espaço para tributo: queremos mostrar que, em nossa região, há muita gente criando e se expressando através da arte. Apresentaremos diversos artistas, de variados gêneros musicais, mostrando suas próprias obras, muitas vezes ainda inéditas, e disponibilizando gratuitamente em plataformas de streaming, em formatos diversos. 

A primeira temporada, contendo três talentosos (e diferentes entre si) músicos locais segue em seu segundo Ato, com o cantor e compositor jequieense Náufrago Urbano, que vive em Vitória da Conquista há mais de uma década.

Música é arte. Arte é expressão. O que nossos artistas têm a dizer atualmente?


A PRODUÇÃO


A ideia do subprojeto remonta a 2017, quando desenvolvemos uma experiência semelhante, no então interditado teatro do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, fechado para eventos com a presença de público, mas utilizado pela Distintivo Blue como local de ensaio e gravações desde 2015. Utilizando a mesma pauta (duas manhãs por semana), convocamos artistas locais para gravar vídeos no formato voz-e-violão, executando cinco músicas, sendo que destas, três deveriam ser autorais. O @memoriasudoeste ainda não existia: tudo foi realizado sob o seu projeto ancestral, a BLUEZinada! [confira aqui uma playlist com esses vídeos antigos], mais direcionado ao blues e jazz, portanto, as CCCJL Sessions extrapolavam sua temática e anunciavam a necessidade de um trabalho voltado à musicalidade da região sudoeste da Bahia, que só nasceria em 2019.

Desta vez, pensando na enorme popularização dos chamados "shows-tributo", onde a nostalgia pelos chamados "clássicos" termina por, não raro, desestimular a execução da música autoral nos diversos palcos da região, decidimos radicalizar a antiga proposta, convidando apenas artistas que não se limitam unicamente a reproduzir o que já foi consagrado, mas também criam arte nova, provando que a música contemporânea ainda existe e continua expressando seu tempo e espaço, papel de todas as artes desde tempos remotos. Desta vez são seis músicas, todas autorais, além de pequenas falas explicativas e uma autobiográfica de até cerca de dez minutos. O formato ainda é minimalista, geralmente voz-e-violão, dada a nossa limitação em equipamentos, pessoal e tempo para a produção dos materiais.

O título do subprojeto é uma clara provocação ao universo dos "shows-tributo": ao invés do famoso, exaustivo e, muitas vezes, automático "toca Raul!", incentivamos o artista a mostrar suas próprias criações. O "Toca Autoral!" surge, pela primeira vez, no texto da matéria de capa da primeiríssima edição da nossa zine, Memória Musical do Sudoeste da Bahia [Acesse aqui], nos inspirando a aprofundar o conceito que se materializa agora. Afinal, se o próprio Raul Seixas tivesse cedido e estacionado no confortável "tributo a Elvis" que marcou o início de sua carreira, não investindo em sua própria identidade artística, quem gritaria "toca Raul!" hoje?


O CONTEÚDO


O Toca Autoral! não se limita à produção de vídeos: o artista tem acesso a um sistema completo de produção original, que inclui a publicação de vídeos individuais de cada uma das faixas, além do vídeo completo, incluindo as falas explicativas e autobiográfica. Ainda, a uma sessão de fotos, que poderão ser utilizadas para a sua própria divulgação, como desejar. As músicas são mixadas e masterizadas para compor um EP de verdade e distribuído para as principais plataformas de música, como Spotify, Deezer, Apple Music, Amazon, etc. A gravação ainda será lançada no formato podcast e disponibilizada nos principais agregadores. Ao final da temporada, será lançada, ainda, uma edição especial da nossa zine, que será publicada tanto em formato digital (.pdf) quanto impresso, enriquecendo o portfólio do artista e, mais amplamente, a musicalidade da região em geral, valorizando a produção autoral e incentivando outros artistas a tocar suas próprias músicas.

Todo esse material é entregue ao artista, gratuitamente, para que o utilize como julgar adequado para o desenvolvimento de sua própria carreira artística. Assim, durante o período de lançamentos, ainda  buscamos formas de acesso aos veículos de Imprensa, como emissoras de rádio, TV, jornais, revistas, blogs, etc., sempre com a preocupação de registrar toda e qualquer participação nesse sentido e publicar em seguida.

Ao artista é exigido, para a participação, certo nível de comprometimento: ensaiar suficientemente suas músicas para uma boa execução, ser pontual às participações e fornecer as letras cifradas de todas as canções, afinal, o "'Toca' Autoral!" também significa incentivar e permitir que o público conheça sua obra a ponto de também desejar/conseguir executá-la, de onde estiver. Trata-se de um projeto de fomento ao artista, mas, também, de formação de público. Demonstrar que o artista regional guarda, em si, tanto valor quanto o "consagrado" e divulgado em grandes proporções é uma das máximas mais caras do @memoriasudoeste


Foto: Plácido Oliveira

NÁUFRAGO URBANO


"Eu me chamo Júlio Náufrago. Sou jequieense. Estou em Vitória da Conquista há doze anos. Foi aqui que comecei a alavancar um pouco mais na música. Represento a minha família, que não tem nenhum músico, mas foi minha irmã e meu irmão que me colocaram para ouvir rock n’ roll. Isso influenciou muito a minha vida. A partir daí, comecei a querer tocar violão, cantar… Participei de alguns projetos em Jequié, na época da escola, mas quando eu vim morar em Conquista, em janeiro de 2011, e vi o cenário daqui… A galera, um monte de roqueiro, umas gatas [risos], as praças, aquele frio, as roupas… Falei: “cara, é aqui. É aqui que eu quero ficar”. 

E comecei a tocar violão, compor, tocar uns covers… Agora estou aqui, com um projeto autoral chamado Náufrago Urbano, que segue agora para um caminho também de cover, onde eu tenho algumas músicas autorais gravadas, que estão em plataformas digitais, outras prontas para lançamento também. Mas estamos agora em processo de transição. Vou transformar em uma bandinha de baile, de bar, uma banda cover também, mas pareando com meu trabalho artístico autoral, ou seja: "Náufrago Urbano" sou eu e ao mesmo tempo uma banda. Pensei em desvincular o meu nome pessoal e colocar com as minhas músicas, mas decidi manter com minhas músicas e as cover também.

Tudo começou com a influência de um amigo de infância, lá em Jequié, em meados de 2009. Ele ganhou um violão e começou a aprender sozinho pela internet. Eu fiquei comecei a ficar com aquela inveja boa, sabe? Falei: “esse cara é meu brother, tocando violão. Quero tocar violão com ele”. E comecei a perturbar meu pai: “me dê um violão. Eu quero tocar violão”. Aí, meu pai: “pra que você quer violão? Vou lhe dar um violão”. Me deu um, com as cordas bem altas. Para tirar um acorde demorou muito. Também, com muito esforço, peguei três meses de aula de violão, com um rapaz que morava na rua, que tocava há muitos anos, tocava muito bem.  Então, esses três meses mudaram tudo: a partir daí, eu chegava em casa, colocava os acordes, pegava as cifras, ouvia bastante música, e foi como tudo começou. E já tinha aquela influência da minha irmã e do meu irmão, ouvindo muito Nirvana, Legião Urbana, aquele rock dos anos noventa, que prevalece até hoje. E essa foi a minha influência, para começo de história. 

Quando eu comecei a tocar violão, minha primeira música foi, se não me engano, Será, Que País É Esse?, algo assim. Comecei  a deixar o cabelo crescer, queria ser grunge. Morava em Jequié, um calor danado, não podia usar um flanelado, sair com a calça rasgada que o povo: “é louco, é doido”. Fui para o colégio com a calça rasgada, não pude entrar, e fui me sentir melhor em Conquista, onde fui mais abraçado por essa loucura. 

Essa questão de compor veio junto com a ideia de tocar violão e cantar, porque era uma inquietação, aquela vontade de falar alguma coisa. Quando percebi que conseguia cantar e tocar alguma música, falei: “agora já posso criar algo meu.” Me motivei a compor para mostrar aos amigos. Depois vieram os festivais, de colégio mesmo, para mostrar a composição. Então, isso foi me empolgando e comecei a escrever. Escrevi muitas coisas que não cheguei nem a musicar mas, com o tempo, foi ficando mais sério. Na verdade, eu comecei, também, a me endoidar um pouco do juízo: bebi muito, fiz muita loucura. Isso também me deixou com a vontade de falar sobre essas coisas em músicas. Músicas de quando eu tinha dezoito anos. O tempo as levou.

Hoje eu já componho com um pouco mais de lógica, de criatividade, então, hoje, eu exponho as músicas que tenho. Há um retorno bacana do público. Lancei umas músicas na pandemia, em meados de 2020, voz e violão no seco, gravadas dentro de um quarto de madrugada, com um guarda-roupas (como forma de isolar o som). O pessoal abraçou a ideia, apesar de ter ficado até bem tosco, particularmente falando, mas o que vale é a intenção: o feito é melhor que o perfeito. Estou feliz pelo que eu fiz, e de participar de novo de um projeto mostrando as minhas músicas, e continuo compondo sim. Há músicas novas, que ninguém nunca ouviu, e que vou mostrar neste projeto, o Toca Autoral!, então, muito obrigado. 

Sobre a atualidade, em relação à música, estou voltando a viver dela, tocando em bares, festas particulares, aniversários... Amigos me chamam pra tocar, então, estou com um duo, com um baterista, alguns amigos freelancers que fazem guitarra, baixo, mas ando muito mais “trovador solitário”; toco muito mais sozinho, voz e violão, pelos bares e tem virado uma forma de sobrevivência. As portas estão se abrindo, mas creio que isso vai servir como uma escola. Depois da pandemia, o que escancarou realmente, de oportunidade para nós, foi tocar nos bares. Esses showzinhos em todos os lugares na cidade, que vem investindo bastante nisso, então, é pagar o embalo: aproveitar para estudar e fazer disso uma escola mesmo. Dá para aprender muita coisa. Então, para o momento é isso. Tem músicas novas chegando, logo logo, e vocês me encontram pelos bares e festas da cidade.


Confira a íntegra do vídeo:




🟢 Playlist completa no Youtube [músicas separadas]



MÚSICAS


1) ANTIGO REFRÃO (BR-7PI-23-00006)

"Essa música surgiu há uns sete anos. É o meu maior sucesso, ao menos de feedback do público. Considero uma balada romântica, chega a ser pop. É uma música que toco muito ao vivo. Tenho gravada, também, em voz e violão, em vídeo, estúdio, então, a música está bastante explorada, e continuo explorando bastante até hoje. Creio que é uma balada romântica. A própria letra já diz, onde falo sobre um reencontro de almas, de um casal que se conheceu em uma época e, anos depois, se juntou no mesmo barco e encarou mais uma maré, mais uma onda de romance. Então, se tornou um antigo refrão, depois um refrão moderno e uma música."

Vejo navegar em águas provocantes 
O desejo quer nos afogar 
Outra vez nós dois 
Nesse mesmo barco 
Tempos depois 

Não tente disfarçar 
Eu não vou me afastar 
No fim da noite sei onde quero te levar 
Pro mesmo refrão 
Vou por seu quarto nessa canção 
Só pra ver se ainda podemos rimar 

Vejo mergulhar em águas provocantes 
No teu beijo quero me afogar 
Outra vez nós dois 
Entregues ao acaso 
Tempos depois 

Vejo navegar em águas provocantes 
O desejo quer nos afogar 
Outra vez nós dois 
Nesse mesmo barco 
Tempos depois 

Não tente disfarçar 
Eu não vou me afastar 
No fim da noite sei onde quero te levar 
Pro mesmo refrão 
Vou por seu quarto nessa canção 
Só pra ver se ainda podemos rimar 

Não devemos parar 


2) PERSISTIR (BR-7PI-23-00007)

"Persistir se tornou a música que mais curti ter escrito. Considero, um pouco, como crítica social, onde a gente vai embora de casa, começa a encarar o mundão e vê como são as pessoas, deixa de confiar, fica no achismo, em cima do muro, com medo, e começa a se isolar cada vez mais. Mas, como não se vive só de solidão, também temos de ter esperança.  Então, vem a segunda parte, trazendo a sensação de 'preciso ver o sol também', aquela ideia de persistência mesmo, o que é totalmente diferente de insistir: quando você persiste, é porque acredita, gosta, quer. Não está só batendo o martelo: você persiste porque acredita. Então, foi onde eu acreditei que a minha vontade passaria a ser verdade pra mim, quando encarei melhor a minha vida, várias fases que eu tive: virar pai, morar sozinho, perder um pai, cidade nova, amigos novos, amigos se perdendo, morrendo, várias coisas acontecendo. Então, essa música foi muito importante pra mim, ainda é hoje, então, gosto muito de persistir." 

Somos todos iguais 
Esperando sempre algo a mais 
De qualquer um 
Por qualquer um 

E largamos a mão 
De quem nos deu a proteção 
Nesse mundo inseguro 

Somos partes iguais 
De um quebra-cabeça de mortais 
Bem no fundo 
Sabemos disso tudo 

E deixamos de achar 
Que podemos confiar 
Observando 
Tudo de cima do muro 
Observando 
Tudo de cima do muro 

Até desabar 
Até desabar 

E o que parecia apenas 
Ser uma vontade 
Passará então a ser 
A minha verdade 

Persistir percorrer 
E ao sonhar, poder viver 
Vou chegar, lhe dizer 
Pode vir e traz o teu sofrer 
Vem mudar e ficar


3) PRA ELA (BR-7PI-23-00008)

"Pra Ela é uma música até meio bobinha. Está comigo há uns nove anos. Acho que é a mais velha que tenho. “Bobinha” porque eu era um cara muito romântico, muito 'bobo apaixonado', então, eu entrava no ônibus, via algo que achava interessante, já pensava em escrever sobre aquilo. E, embora pareça ser para uma menina, pode ser que não seja: 'pra ela' pode ser que eu esteja falando de uma cidade, de uma época específica… Falo: 'Teu sorriso me mostrou a sua paz interior', mas o sorriso é só isso aqui, os dentes arreganhados? Não: pode ser que eu viajei, vim morar em Conquista, gostei daqui, e o sorriso de Conquista me mostrou a paz interior que eu precisava. Enfim: na verdade, é uma música bobinha, sobre uma uma garota que conheci, uma vez, no ônibus. [risos]"

Teu sorriso me mostrou a sua paz interior
E pra quem sonha com amor, será bem mais que um sonhador
Veio assim
Sem querer
Por um atraso descuidado
Meio assim
Sem saber
Como um acaso combinado
E por aí eu descobri
Tem algo novo a fluír
E pude ainda perceber
Seu olhar a me envolver
Parecia disfarçar a vontade de olhar
E eu imaginando
Natural como pensar
Doce dúvida a rolar
Acabei me entregando
Foi assim
Meio sem querer
Que nós nos encontramos
Meio assim
Sem saber
Será apenas um engano?
Meio assim
Sem querer
Por um atraso descuidado
Veio assim
Sem saber
Como um acaso combinado


4) REMETIDO A MIM 3) (BR-7PI-23-00009)

"Remetido a Mim é a música mais pessoal que tenho, no momento. É até um pouco chato de explicar, faz parte demais de minha inquietude enquanto músico, pessoa mesmo, e sobrevivente: um cara que cansou de dormir e acordar pensando em um monte de lorota. Então, Remetido a Mim, como o próprio título diz, é, nada mais, nada menos que uma pessoa oscilando entre a vontade de viver e de morrer, 'como uma criança perdida dos seus pais', que não sabe onde está, para onde ir, o que fazer, o que ser, sem qualquer instrução que, então, você se alguém que precisa de alguém. Alguém para te ouvir, te ajudar, te dar a mão. Remetido a Mim veio para dizer muito sobre a minha crise existencial, como músico, como pessoa, enfim… Sobre a minha existência. "

Ando meio calado como uma criança perdida dos seus pais
Triste e desabrigado, como se fosse castigo perdi minha paz
E quem vai dizer como vou crescer?
Eu mesmo irei me encontrar
Quem vai responder quando eu perguntar?
Que o silêncio me faça entender
Vejo atormentado o louco que essa vida previa
Sinto-o, ainda, em prantos, numa reza fogo e parafina
Quem sabe assim possa ressurgir?
Em meio a esperança e a dor
Coragem que vem e faz enfrentar
Todo ódio em busca de amor


5) SOLSTÍCIO (BR-7PI-23-00010)

"Solstício é uma música mágica. O próprio nome já é mágico. É uma oração. Escrevi no dia 21 de junho de 2020, durante o isolamento. Eu estava em São Paulo. Nessa madrugada de solstício de inverno, resolvi escrever uma música que seria uma oração para mim. Uma tentativa, também, de mudar o meu ciclo, a minha vida, com tudo o que acontecia em relação à pandemia, às mudanças que eu encarava: voltar para a música, escrever algo, gravar, algo… Então, ela veio como um pedido, que é para mim mas, ao mesmo tempo, Para todo mundo, porque a música não é feita para você: é feita para as pessoas.

Na verdade, era só uma letra, e musiquei, dois anos depois, que foi este ano [2022]. Então, ficou ali, guardada, como uma oração daquela noite específica… 'Quando A noite chegar', não é 'a noite', que vem todos os dias, dia após noite, noite após dia: é uma noite específica, em que fiz essa oração. É inédita, ninguém a conhece, e ela tem essa mensagem para as pessoas, de que a gente deve abrir as janelas, sabe? 'Do quarto, do coração', dos armários, para deixar sair o que não tem mais, e o que é novo entrar. Essa é a transição, a magia da coisa: você abre as janelas da sua casa, da sua vida, da sua mente, do seu ser, deixa sair aquilo que não faz sentido mais, e recarrega, abastece com algo de melhor pra continuar seguindo a estrada. Então, esta é a magia da coisa. Esta é a ideia do solstício."

Quando a noite chegar
Abre os teus armários
Põe na porta o teu melhor perfume
Uma música pra dançar
Uma reza para cantar
Quando a noite chegar

Quando a noite chegar
Revele a intenção
Ela diz que os sonhos vivem
E o fogo jamais a de se apagar

Da cozinha, do quarto e do coração
Abro os meus armários
Lembrei do que é velho
E eu não quero, não
Haverá espaço então
Para nova estação

Da cozinha, do quarto e do coração
Abro os meus armários
Lembrei do que é velho
E eu não quero, não
Haverá espaço então

Para nova estação
E revelo que já não quero viver
Do frio ou do calor


6) JOYCE (BR-7PI-23-00010)

"Joyce conta a história de um casal, e a considero uma música extremamente romântica, mas, também, com uma mensagem interessante no refrão. Surgiu justamente porque o violão estava lá, largado em cima do colchão, e a minha gatinha resolveu fazer um xixizinho básico, falar bem assim: 'toma aí o teu presente'. Quando peguei o violão, senti o cheiro, falei: 'véi, cheiro de xixi de gato no meu violão!'. Comecei a cheirar o violão e falei: 'é, véi: é isso mesmo!'” Ficou impregnado na minha mente. Na época, eu era motoboy e comecei a cantar versos na moto, fazendo entrega. Então, estava ali na moto, e pensando no violão com cheiro de xixi de gato. Comecei a cantarolar isso: 'cheiro de xixi de gato no meu violão', aí, 'você que lute'. 

Eu lutei mesmo pra tirar aquele cheiro. Deu muito trabalho, e acabou se tornando uma música sobre: às vezes, a gente reclama demais. Eu reclamei pra caramba desse cheiro no meu violão, do gato em cima da cama. Eu sofro de rinite, e os pelos do gato me incomodam muito, mas eu gosto demais, amo, os gatinhos. Então, reclamei, reclamei de várias coisas para, no final, cair a ficha e eu pensar que a vida tem um gosto, que vai muito além de ficar reclamando, e seria isso que tá o amar. 

A vida tá aqui, a toda hora, acontece a todo momento e mostrando várias formas de viver, e lugares onde você pode ficar bem, se sentir bem, e fazer alguma coisa também, por isso, não ficar só reclamando,  negativando as coisas, pessimismo, essa reflexão. Eu reclamo, pego a primeira parte da música para reclamar, chego no refrão e caio no bom senso. Falo: 'tá na hora de parar de reclamar'. Depois, reclamo de novo, caio no bom senso, falo: 'Não, véi, acho que tem um negócio melhor pra fazer aqui: é amar'. [risos]"

Cheiro de xixi de gato no meu violão
E Joyce disse: você que lute então, amor
Sei que sou chato
Mas com razão
Tira esse gato
De cima do colchão

A vida tem
Um gosto além
De reclamar
Que tal amar?
A vida vem
Te mostra algum lugar
Um abraço pra morar
Vem te dar a mão

Cê tá gordinha
Né por nada não
-Será possível?
Não brinca com isso não
Por favor

Sei que sou chato
Mas com razão
Tô preocupado, amor
Com essa situação

A vida tem
Um gosto além
De reclamar
Que tal amar?
A vida vem
Te mostra algum lugar
Um abraço pra morar
Vem te dar a mão

Vim te dar a mão.


DIVULGAÇÃO






FICHA TÉCNICA

Memória Musical do Sudoeste da Bahia e Museu do Rock Conquistense apresentam: Toca Autoral!
Produção: Plácido Oliveira Mendes [http://linktr.ee/placidomendes]
Agradecimentos: Leonardo Gois e Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima
Gravado em 11 de outubro de 2022, na sala principal do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil.
Todas as músicas por Náufrago Urbano
Publicação: 11 de maio de 2023


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