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Toca Autoral! - 5C1


Um dos principais objetivos do Memória Musical do Sudoeste da Bahia [@memoriasudoeste], projeto de pesquisa, fomento e preservação independente, para além do simples acumular material sobre a música da nossa região, como qualquer museu, é incentivar os artistas através da produção original de conteúdo: pensar não apenas o passado, mas o hoje, o agora.

No subprojeto TOCA AUTORAL! não há espaço para tributo: queremos mostrar que, em nossa região, há muita gente criando e se expressando através da arte. Apresentaremos diversos artistas, de variados gêneros musicais, mostrando suas próprias obras, muitas vezes ainda inéditas, e disponibilizando gratuitamente em plataformas de streaming, em formatos diversos. 

Em outubro, a música poçoense comanda esta segunda temporada do TOCA AUTORAL!: A 5C1 [ @bandacincocontraumoficial8525  ] traz sua bagagem de mais de duas décadas de uma belíssima trajetória.

🏡 Nesta etapa, o cenário é a Casa Memorial Governador Régis Pacheco, museu municipal situado na Praça Tancredo Neves, centro de Vitória da Conquista e contém diversas obras de importantes artistas locais, além de contar a história política da cidade. 

Música é arte. Arte é expressão. O que nossos artistas têm a dizer atualmente?


A PRODUÇÃO

A ideia do Toca Autoral! remonta a 2017, quando desenvolvemos uma experiência semelhante, no então interditado teatro do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, fechado para eventos com a presença de público, mas utilizado pelo Distintivo Blue como local de ensaio e gravações desde 2015. Utilizando a mesma pauta (duas manhãs por semana), convocamos artistas locais para gravar vídeos no formato voz-e-violão, executando cinco músicas, sendo que destas, três deveriam ser autorais. O @memoriasudoeste ainda não existia: tudo foi realizado sob o seu projeto ancestral, a BLUEZinada! [confira aqui uma playlist com esses vídeos antigos], mais direcionado ao blues e jazz, portanto, as CCCJL Sessions extrapolavam sua temática e anunciavam a necessidade de um trabalho voltado à musicalidade da região sudoeste da Bahia, que só nasceria em 2019.

Desta vez, pensando na enorme popularização dos chamados "shows-tributo", onde a nostalgia pelos chamados "clássicos" termina por, não raro, desestimular a execução da música autoral nos diversos palcos da região, decidimos radicalizar a antiga proposta, convidando apenas artistas que não se limitam unicamente a reproduzir o que já foi consagrado, mas também criam arte nova, provando que a música contemporânea ainda existe e continua expressando seu tempo e espaço, papel de todas as artes desde tempos remotos. Desta vez são seis músicas, todas autorais, além de pequenas falas explicativas e uma autobiográfica de até cerca de dez minutos. O formato ainda é minimalista, geralmente voz + instrumento, dada a nossa limitação em equipamentos, pessoal e tempo para a produção dos materiais.

O título do subprojeto é uma clara provocação ao universo dos "shows-tributo": ao invés do famoso, exaustivo e, muitas vezes, automático "toca Raul!", incentivamos o artista a mostrar suas próprias criações. O "Toca Autoral!" surge, pela primeira vez, no texto da matéria de capa da primeira edição da nossa zine, Memória Musical do Sudoeste da Bahia [Acesse aqui], nos inspirando a aprofundar o conceito que se materializa agora. Afinal, se o próprio Raul Seixas tivesse cedido e estacionado no confortável "tributo a Elvis" que marcou o início de sua carreira, não investindo em sua própria identidade artística, quem gritaria "toca Raul!" hoje?


O CONTEÚDO

O Toca Autoral! não se limita à produção de vídeos: o artista tem acesso a um sistema completo de produção original, que inclui a publicação de vídeos individuais de cada uma das faixas, além do vídeo completo, incluindo as falas explicativas e autobiográfica. Ainda, a uma sessão de fotos, que poderão ser utilizadas para a sua própria divulgação, como desejar. As músicas são mixadas e masterizadas para compor um EP de verdade e distribuído para as principais plataformas de música, como Spotify, Deezer, Apple Music, Amazon, etc. A gravação ainda será lançada no formato podcast e disponibilizada nos principais agregadores. Ao final da temporada, será lançada, ainda, uma edição especial da nossa zine, que será publicada tanto em formato digital (.pdf) quanto impresso e em áudio, enriquecendo o portfólio do artista e, mais amplamente, a musicalidade da região em geral, valorizando a produção autoral e incentivando outros artistas a tocar suas próprias músicas.

Todo esse material é entregue ao artista, gratuitamente, para que o utilize como julgar adequado para o desenvolvimento de sua própria carreira artística. Assim, durante o período de lançamentos, ainda  buscamos formas de acesso aos veículos de Imprensa, como emissoras de rádio, TV, jornais, revistas, blogs, etc., sempre com a preocupação de registrar toda e qualquer participação nesse sentido e publicar em seguida.

Ao artista é exigido, para a participação, certo nível de comprometimento: ensaiar suficientemente suas músicas para uma boa execução, ser pontual às participações e fornecer as letras cifradas de todas as canções, afinal, o "'Toca' Autoral!" também significa incentivar e permitir que o público conheça sua obra a ponto de também desejar/conseguir executá-la, de onde estiver. Trata-se de um projeto de fomento ao artista, mas, também, de formação de público. Demonstrar que o artista regional guarda, em si, tanto valor quanto o "consagrado" e divulgado em grandes proporções é uma das máximas mais caras do @memoriasudoeste

Foto: Plácido Oliveira

5C1, por ela mesma

Alessandro: "A banda 5C1 foi formada no ano 2000. A gente escutava muita música, de vários estilos e sentiu a necessidade de beber dessas fontes e reproduzir. Era uma época em que estava em ascensão o Mangue Beat, Chico Science, Nação Zumbi, Fred Zero Quatro, e um monte de banda pernambucana que se permitiam mesclar vários sons. A gente foi nessa onda, sempre com uma identidade formada, sem querer fazer as coisas muito parecidas, mas com a vontade de experimentar outros elementos que não fossem exclusivos do rock'n'roll.
A banda tinha outra formação, e passou por algumas transformações, até a chegada do nosso amigo Robson. Temos influências de músicas de fora, como todo mundo, mas a banda é genuinamente brasileira. Gostamos de todos os ritmos brasileiros e consideramos uma fonte muito rica."

Robson: "Eu já tenho, mais ou menos, 15 anos de banda. Conheci o som da galera desde cedo. Somos amigos de infância, mas a gente não tocava junto. Na verdade, a gente tocava em bandas de punk da cidade até pintar a oportunidade de tocar com eles, e era um som que eu já curtia. Acho que, desde a minha entrada, consegui acrescentar algo ao projeto.
A galera que conhece a banda das antigas pode estranhar um pouco a gente falar 5C1 aqui, porque conhece a banda como 5 contra 1, mas isso foi a nossa opção, por conta de 5 contra 1 ter uma outra conotação de duplo sentido, que na época parecia conveniente, mas hoje, com a maturidade e até a cobrança de quem nos conhece,  trocamos só para a sigla 5C1, para não perder muito da identidade e não trocar totalmente o nome da banda, sem ficar com a outra conotação do nome."

Renato: "No surgimento da banda, em meados de 2000, a gente tinha mesmo esse propósito de mesclar o que já ouvíamos de fora do país com as sonoridades próximas. Havia esse propósito de beber das melhores fontes possíveis para escrever o nosso próprio papel na música do interior baiano e underground da época. Então, com esse boom do mangue beat e até mesmo uma banda baiana da época também, chamada Catapulta, misturando elementos regionais da Bahia, a gente achou muito peculiar e próximo da nossa ideia de colocar uma coisa que a gente vivenciava com o que vinha de fora.
A gente sentou lá e falou: "rapaz, vamos começar agora a escrever o que a gente vive, o que a gente quer mostrar para a galera, e a sonoridade vai ser a melhor que a gente puder extrair". E foi com isso que surgiu a banda 5C1, conseguindo a nossa identidade própria.
Hoje quando o pessoal vai ao show, eles não procuram saber se a gente vai estar tocando cover. Na verdade, procuram até se atentar em versões que a gente faz, porque não fazemos cover.
É interessante essa ideia perdurar esse tempo todo batendo na tecla de fazer o nosso som. E estamos aí há 23 anos, embora muitas pessoas pensem que não estamos em evidência, mas, aqui na banda, nos sentimos evidência para caramba, porque vivenciar 23 anos de tudo que o que aconteceu no alternativo, na região, não é para qualquer um, não.

Alessandro: "A 5C1 nunca teve pausa. A gente sempre trabalhou muito e sempre acordou com vontade de compor como se fosse o último dia de nossas vidas. As pessoas que acompanham há algum tempo, devem saber que a gente deu uma pausa agora, não por conta de não poder ensaiar: na verdade, a gente está reestruturando o nosso estúdio, que estava meio deteriorado, para termos uma comodidade melhor para compor e ter um ambiente bem melhor para fazer, de fato, música com mais tranquilidade.
Então, estamos reformando o estúdio, e como é uma coisa feita por nós mesmos, no nosso tempo, a gente resolveu dar essa pausa. As pessoas que forem aos shows agora vão se deparar com nós três dividindo o palco, porque o formato da 5C1, atualmente é esse. Como somos uma banda cheia de alquimias, pode ser que amanhã tenha outras pessoas compondo. Na verdade, ficou quem tinha que ficar."


Confira o Episódio completo abaixo:


🟠 Playlist completa no Youtube [episódios completos]

🟢 Playlist completa no Youtube [músicas separadas]


MÚSICAS

KAYA
(Alessandro Queiroz, Renato Queiroz, Robson Silva)
BR7PI2400041

"É importante falar de Kaya. Caia foi uma música escrita há 23 anos, e é uma homenagem à minha filha, Kayane, e aí abreviamos para Kaya. A música, que tem 23 anos, foi composta como uma das primeiras do Projeto 5C1. Ficamos felizes com a receptividade das pessoas. Sempre que tocamos, elas se identificam. O interessante é saber como você faz uma coisa com foco em um determinado alvo, e as pessoas acabam se identificando e fazendo suas próprias releituras do processo. Ficamos muito felizes com isso." (Alessandro)

Vamos brincar na areia
E  nos  banhar no mar
Contagem de estrelas
Lições que vem do altar
Anjos que brilham no céu 
Bênçãos pra nos ofertar
Paz é o que vem de você 
Cheiro de lírio no ar
Kaya leve como o por do sol
Kaya  leve como um algodão
Kaya  leve como um cafuné, caia


ROMEIROS
(Alessandro Queiroz, Renato Queiroz, Robson Silva)
BR7PI2400042

"Falar de Romeiros é algo que tratamos com toda a delicadeza. Falamos um pouco sobre religiosidade e as romarias que acontecem, principalmente nas cidades do interior. Na Bahia, não é diferente. Queremos falar um pouco sobre nós e, principalmente, da fé do povo nordestino. Viemos de uma cidade com muita ligação à igreja católica e suas romarias (Poções). Num belo dia, eu estava subindo perto da igreja matriz e havia uma romaria dessas passando. Pensei no quanto é interessante a fé das pessoas, como elas se movimentam quando o assunto é fé. Colocamos todo esse processo na letra, e ficou bastante interessante." (Alessandro)

Quando a minha alma o vento toca
Claridade entra à porta
Não há mais escuridão
Sinto a matéria flutuando
E anjos fazem cantarolas 
Espantando a maldição
Há uma luz no fim do túnel
Uma cruz a carregar
Sentinelas, romarias
Procissões, santos no altar 
Ver os festejos, seguir os cortejos
Em direção à capela da fé

POVO DE LÁ
(Alessandro Queiroz, Renato Queiroz, Robson Silva)
BR7PI2400043

"Povo de Lá é uma música que escrevi sobre saudade. A banda, nós três, os fundadores (Alessandro, Renato e Cristiano Queiroz), não somos da Bahia. Somos de São Paulo, mas nossos pais são baianos, e sentimos uma forte ligação com o 'povo de lá'. Quando falamos de 'povo de lá', nos referimos ao povo que deixamos para trás, no sentido de termos deixado pessoas em outro estado. A música fala dessa nossa andança e também do complexo de ver pessoas ainda submissas, até hoje, 'pegas pela barriga', como dizemos. A música fala um pouco disso: da escassez que o povo ainda enfrenta, da comida que é escassa e dos benefícios que chegam muito pouco para as pessoas sertanejas, que acabam ficando à mercê dessa realidade." (Alessandro)

Hei ah! Mas se tu soubesse
A saudade que eu sinto do povo de lá
Já faz tanto tempo que a gente não para pra conversar
Aproveitando a lua, parece ser cheia, acendo a fogueira
Retirantes retornam otimistas que um dia isso possa mudar
Nosso povo omitindo a sincera verdade em troca de feira
A miséria progride regredindo a todos que moram por lá
E nos bancos a certeza de tudo que falo não ser besteira
A ausente esperança nos rostos famintos do povo de lá
Cortejos e procissões
O sapo aguçando trovões
Manhã de segunda-feira
É chuva que cai em abundância
Na água que brota esperança
Do povo da catingueira
Crianças sambando na lama
No chão de poeira vermelha
As chuvas descarregam águas
Transbordam açudes, ribeiras
Açudes, ribeiras

RECADO PRA IOIÔ
(Alessandro Queiroz, Renato Queiroz, Robson Silva)
BR7PI2400044

"Recado Pra Ioiô foi uma das primeiras canções do nosso primeiro álbum. Ela fala sobre a necessidade de deixar o sertão, mesmo querendo ficar. A saudade fica, muitas coisas ficam, mas você leva o sertão consigo para onde for. Infelizmente, por mais que o sertão seja belo, você precisa procurar novos rumos para sua sustentabilidade. A música fala disso, da saudade e dessa necessidade de partir, mesmo amando o lugar. É uma mensagem para que as pessoas entendam que, muitas vezes, precisam deixar suas cidades, como no caso dos baianos, não por falta de identificação ou amor pelo lugar, mas pela falta de oportunidades para sustentar suas famílias." (Alessandro)

Vá dizer a ioiô
Que eu vou partir
Até logo, tchau já vou embora
Pelo solo cinzento de sertão
Levarei a saudade na memória
Conduzido por estrelas que passeiam pelo céu 
Que confundem-se com as mesmas que carrego no chapéu 
No clarão da lua mansa que encandeia a escuridão 
E me faz ter esperanças  espantando a solidão
Digo: adeus capoeira, vou partir meu sertão
A saudade a poeira, Cruza comigo sertão


CLICHÊ
(Alessandro Queiroz, Renato Queiroz, Robson Silva)
BR7PI2400045

"Clichê foi composta alguns anos atrás, e, de lá para cá, o discurso continua o mesmo, porque nada mudou. Ela retrata a questão de ser julgado sem ter sido interpretado corretamente. Fala sobre como, muitas vezes, a imprensa mal-intencionada publica o que quer, sem investigar os fatos, colocando em risco a vida de muitas pessoas, especialmente pardas ou pretas. A música aborda o clichê da pessoa ser abordada ou enquadrada por ser negra, trazendo essa crítica." (Renato)

A imprensa mal intencionada noticiando o medo 
No morro já não é mais segredo 
Esse tema nunca virou enredo de Carnaval 
Com textos bem elaborados discursos perfeitos 
Discriminados estamos sujeitos 
A ter o nosso rosto estampado na capa de um jornal 

Virou clichê em novela, dizer que a culpada é a Favela.
Que preto pobre é ladrão
Vê se pega a visão
Bati a real pra ela, mostrei que além de becos vielas 
Comunidade é inclusão, seja branco preto pobre ou não 

Subiu o morro naquela de forjar mais um assunto que rendesse a matéria 
Se camuflando entre soldados tendo como escudo 
Um tanque de guerra 
Coletes, microfone empunhado 
Um câmera do lado e eu ali da janela 
Observando aquela cena e já imaginando como seria na tela

Virou clichê em novela, dizer que a culpada é a Favela.
Que preto pobre é ladrão
Vê se pega a visão 
Bati a real pra ela, mostrei que além de becos vielas 
Comunidade é inclusão, seja branco preto pobre ou não

Basta olhar além do morro a verdade está no olhar 
Em torno há um redentor a vigiar 


BRINCANDO DE RODA
(Alessandro Queiroz, Renato Queiroz, Robson Silva)
BR7PI2400046

"Roda é uma coisa que não termina. Interessante que ela não tem fim. Brincando de Roda é uma brincadeira que aborda as religiões de matriz africana. Os santos nunca são retratados como pretos, sempre brancos. A música fala de um anjo negro vestido de branco, desafiando a visão de que todos os anjos devem ser branquinhos, alvos. Brincando de Roda vem para destruir essa imagem, dizendo que o anjo pode ser negro, pode ter a cor que imaginarmos. A música busca quebrar esse estereótipo de que tudo de bom só pode ser branco." (Alessandro)

Um anjo negro vestido de branco
Pisou na lama pra anunciar
Que o morro está em festa... festa
Batuque, terreiros, um som que vinha da África
Salve mamãe África
Salve mamãe África
Verdadeiro celeiro que acumula
Cultura e crenças, de adorações e benção
Adorações e benção

Até quem não era do morro
Veio pra sambar
Até quem não era do morro
Veio apreciar, e fazer parte da festa

Abre a roda e vem brincar
Cirandeiro ciranda
Ciranda de molambo
Malungo vem rodar



Ouça agora o EP Toca Autoral! - 5C1 em sua plataforma de música favorita.



🟠 Disponível nas principais plataformas de streaming | Bandcamp | Demais plataformas

FICHA TÉCNICA

Memória Musical do Sudoeste da Bahia apresenta: Toca Autoral! - II Temporada
Produção: Plácido Oliveira [http://linktr.ee/placidoliveira]
Agradecimentos: Naiane Nunes; Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista - Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer. EuLá (observadora).
Gravado em 25 de maio de 2024, na Casa Memorial Governador Régis Pacheco.
Vitória da Conquista, Bahia, Brasil.
Publicação: 30 de outubro de 2024


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