Mazinho Jardim no palco do Agosto. Imagem: William Soares |
Em sua participação na segunda temporada do projeto Toca Autoral!, o cantor, gaitista e compositor Mazinho Jardim, atualmente residindo na pequena cidade de Vizela, em Portugal, prometeu retornar a Conquista em 2024 para mais um show. Sua sessão foi gravada quatro dias após a apresentação do Rock Solidário, no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, com uma banda apelidada de 3 Homens Sem Conflito, e repertório composto por canções antigas, dos tempos de SS-433, e mais recentes, do seu projeto atual, Dragster. A vinda anual ao Brasil coincide com suas férias, e o tempo é dividido entre o reencontro com parentes, amigos e alguma iniciativa musical, portanto, agosto é o mês para aproveitar uma possível chance de conferir o pioneiro do blues baiano em ação, no palco.
A intenção inicial do artista era a de repetir o show do ano passado, no mesmo espaço. Porém, 2024 ainda nos traria o surpreendente anúncio de retorno do Agosto de Rock, icônico festival independente que marcou a primeira metade da década de 2000, deixando um forte legado para os eventos que vieram em seguida. A data dos dois eventos coincidiu, e o artista decidiu participar da seleção aberta publicada para compor a disputadíssima grade que contou com 81 bandas inscritas.
Com a divulgação do resultado, Mazinho optou por convidar o guitarrista e amigo de longa data, Caco Santana, com quem fundou, em 1982, a SS-433, para apresentar um repertório composto essencialmente por canções da lendária banda, aproveitando para comemorar os 40 anos de lançamento do compacto homônimo, que acumula, até o momento, os títulos de primeiro vinil de uma banda de blues baiana e de primeiro da cena rock conquistense.
Assim, na semana anterior ao evento, Mazinho pegou a estrada rumo a Ipiaú (a cidade da igreja de torre blue), onde vive Caco, que convocou o baixista Roque Fischer e o veterano baterista Zé Tenaz para comporem a banda de apoio, e fizeram alguns ensaios. O show Mazinho Jardim & Caco Santana: SS-433 40 Anos despertou a curiosidade e animação de muitos: a presença dos pioneiros no tão sonhado retorno do mais importante festival da história da cena rock conquistense era uma garantia de boas experiências, unindo várias gerações de roqueiros. "Mazinho foi o primeiro roqueiro verdadeiro de Conquista. Quando eu era moleque, bem antes de começar a tocar, costumava assistir à SS-433 no antigo Jardim das Borboletas (atual Praça Tancredo Neves), na Praça da Normal...", disse o músico Gil Barros, membro do também lendário Grupo Barros, enquanto aguardava o início do show, na Mansão Lost, um enorme espaço rural situado à beira do Anel Viário, onde aconteceu o evento.
O rol de canções disponíveis para o show, pelo próprio Mazinho. |
Chegado o momento, a apresentação tem início com a participação do gaitista Diro Oliveira (Café com Blues) no palco, em um duo de gaitas, culminando em Bola Gigante, primeira canção da noite. "Este show é totalmente autoral, falou, gente?", disse Mazinho antes de iniciar O Lado Escuro da Cidade. Após Diamante, Caco apresenta a si mesmo e ao restante dos companheiros, enfatizando a presença do baterista Zé Tenaz: "Tocou com Luiz Caldas!". O peso do momento parece ter sido demais para a estrutura do evento, já que ouviu-se uma explosão, seguida de um grande blackout, que durou cerca de duas horas, até que um gerador de energia fosse providenciado e instalado.
A esta altura, a grade, já atrasada, sofreu baixas: devido a questões contratuais, o evento anunciou, nos bastidores, que a banda paulistana Korzus subiria ao palco quando a energia fosse retomada, e que as demais bandas se limitariam a tocar apenas cinco músicas, com Mazinho & Caco retornando logo após a headliner, sendo seguida pela banda conquistense Dona Iracema. Os veteranos, que previam um repertório de 18 faixas, escolheram algumas das mais animadas e retomaram a apresentação algumas horas depois do apagão.
REPERTÓRIO
(Pré-apagão)
1) Bola Gigante (com Diro Oliveira)
2) O Lado Escuro da Cidade
3) Diamante
(Pós-apagão)
1) Rock da Palestina
2) Eles Pensam Que Me Enganam (Velhos Blues)
3) O Bem e o Mal
4) Sem Vacilo
5) Você Não Vê
6) Jane Furacão
7) Bola Gigante
8) Walking By Myself (Caco cantando)
O palco, às 2:30h de 1º de setembro. Foto: Plácido Oliveira |
Em diversos festivais famosos sempre ocorreram problemas técnicos que entraram para a história e até mesmo adquiriram, com o tempo, certo romantismo. Muitos sonham, ao ler os inúmeros livros sobre o primeiro Woodstock ou o Rock in Rio, em como teria sido fantástico viver tudo aquilo de perto. Os que de fato viveram contam sobre suas experiências aos demais com nostalgia. Porém, no calor do momento e sem essa consciência histórica, a frustração parece ser o sentimento dominante no público, organização (que inevitavelmente também é tomada por um justificado desespero, por motivos óbvios) e artistas, em especial os que ocupavam o palco no momento do problema. Nos bastidores, muitas dúvidas sobre quando e se seria possível retomar a apresentação, em meio às tradicionais disputas de ego entre as bandas, para garantir melhores posições na nova configuração.
Madrugada adentro, Mazinho e Caco retomam sua apresentação com a responsabilidade de conduzir um público já cansado e recém-saído de um show pesado, alto e longo da Korzus, com suas canções autorais que há muito não eram tocadas por aqui: um momento de redescoberta e reencontro entre artistas, público, a cidade e a obra.
De cabeça erguida, os pioneiros tocaram mais oito músicas, sendo sete autorais, conhecidas pelo público underground conquistense "das antigas", encerrando sua histórica apresentação no esperado retorno do Agosto de Rock, protagonizando o momento do apagão, que já se tornou sinônimo de boas histórias. Mazinho, com 65 anos recém-completados (20/08) retorna a Portugal, Caco (61 anos) e o restante da banda a Ipiaú e aos fãs fica a esperança de vê-los juntos novamente cantando e tocando seus blues e rocks de letras críticas e divertidas, que resistiram muito bem ao passar das décadas. Quem sabe, no próximo ano?
Assista, abaixo, a trechos da apresentação, por William Soares:
Nenhum comentário: