O sertão elomariano no cerrado, entre um causo, um repente, um verso e umas canções
Ailton Fernandes
Entre um causo, um repente, um verso e umas cantigas, se alternavam canções do repertório elomariano, músicas da banda e outras reconhecidas pelo cantar de Xangai, que entrava e saía do palco, deixando o grupo desfilar a vontade. Nesta sexta (17), o palco foi o do Clube do Choro, e na quinta eles também estiveram no Teatro da UNIP.
Para isso, as violas não estavam sozinhas. Com guitarras, baixo, bateria, percussão e sopro, os cantadores Xangai, Diro e Thomaz Oliveira começaram com “Arrumação” e “Curvas do rio”, depois teve “O pidido”, “A meu Deus um canto novo”, “Campo branco” e “Noite de Santo Reis”. No meio disso, blocos com as canções autorais do Café com Blues, como “Blues na catingueira”, “Chuva”, “Um bluseiro no sertão” e “Sertanilha”. O encerramento foi com “Clareou” e com o “Bolero de Isabel”, atendendo aos pedidos por bis.
A ideia desse encontro foi produto da pandemia. “Nasceu da esperança da volta de Elomar aos palcos, pela situação de saúde que ele passou na pandemia, e para prestar essa homenagem ao menestrel, que é da fonte que a gente bebe, do mesmo lugar que também é a fonte da pesquisa dele”, lembra Diro. A primeira apresentação aconteceu em Vitória da Conquista, em dezembro de 2022, em outro formato: Café com Blues acompanhada da Orquestra Conquista Sinfônica, regida pelo maestro João Omar e participações de Xangai.
A união Xangai-Café com Blues pretende continuar percorrendo o Brasil. “A gente tá sentindo como vai ser esse movimento, vamos ver para onde a brisa leva. A Café com Blues ela pode caminhar só, com o repertório dela, mas essa linha de homenagear o menestrel está sendo bem interessante. Xangai é nosso amigo, mas tem muita importância para a nossa música, é uma referência muito grande e um grande carimbo estar sendo apresentada ao Brasil através de Xangai”, diz o cantor.
Para Xangai, o que parece ser inusitado, foi um arranjo natural. “Eu sou um apreciador da música, seja ela de onde for, de onde ela vier. Mas, no caso do Café com Blues, é uma banda de característica pop, como se diz, blues, rock ’n roll e tal, agora com uma acuidade, os meninos são muito atentos com a escolha do texto, do que falar. Eu digo ‘não basta cantar, e sim o que cantar’, é uma escolha, uma opção e eles apresentam pra gente um repertório tratando a realidade da nossa região, cantam a caatinga, os aspectos do que é nosso”, explicou o cantador, tido como um dos melhores intérpretes do cancioneiro elomariano. “Café com Blues é bonito, agradável de ver, são versáteis e talentosíssimos”, sinalizou.
A banda Café com Blues foi criada em 2004, em Vitória da Conquista. Desde o início, sua ideia é difundir a cultura nordestina, o reisado, as chulas, modas de violas, o repente e todo o universo cultural do povo do nordeste, em particular da caatinga baiana, criando novos espaços harmônicos e melódicos, “trazer a raiz para perto do novo e levar o novo para perto da raiz em um vai-e-vem de ritmos, fazendo quem ouve tanto conhecer a origem quanto saborear o agora”.
A formação atual é Diro Oliveira (vocal, flautas e gaitas), Thomaz Oliveira (vocal e guitarra), Paulo Novaes e Daniel Novaes (sopro), Gerson Broggini (baixo), Neto Fernandes Sá (bateria), Emílio Bazé (percussão), Alex Santos (violão) e Lúcio Ferraz (guitarra).
Nenhum comentário: