| A Café com Blues está de volta. Você estava lá? |
Thomaz Oliveira, Diro Oliveira e Fábio Santana. Foto: Marcelo Lopes
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Há pouco tempo falamos sobre a Café com Blues, lamentando sobre seu hiato e disponibilizando seu único álbum para streaming (veja aqui). Pois bem, poucos dias depois de publicarmos esse texto, recebemos a ótima notícia de que a banda faria um show, que aconteceu no último sábado, 29 de outubro. A banda completara dez anos (passou voando!) e se apresentou na Feira de Flores de Holambra, evento anual, instalado sempre na famosa Praça do Gil (aos que não conhecem Vitória da Conquista, trata-se do dr. Gil Moreira, pai do Gilberto Gil, que morou nas redondezas).
O evento é uma miscelânea de atrações, a começar pela enorme variedade de plantas ornamentais e produtos relacionados à jardinagem, passando por culinária, esportes, atrações infantis e música, num palco montado num trecho interditado da rua. As apresentações se dão aos fins de semana e são abertas ao público. Boa parte da equipe da Café com Blues está por trás do evento, portanto esta foi uma oportunidade perfeita para presentear o público com esse show.
A banda sofreu alterações consideráveis desde o lançamento do primeiro disco: a saída do guitarrista Julio Caldas, indiscutivelmente um dos maiores da Bahia, exigiu uma grande repaginação, que já chamou a atenção por trazer à linha de frente o baterista Thomaz Oliveira. Músico, compositor, produtor e vocalista, possui trabalho solo, onde toca guitarra e canta. Na própria Café com Blues já assumia os vocais lá mesmo, da bateria. Agora surpreendeu a todos abandonando as baquetas, que davam uma assinatura marcante à sonoridade do grupo, sendo substituído por Juninho Andrade, que segurou muito bem o rojão.
Outra mudança foi a entrada do tecladista Fábio Santana, parceiro antigo do grupo, antes mesmo de ser fundado. Os diversos samples presentes nas canções já conhecidas também ficaram por sua conta. Além disso, seu papel foi importantíssimo por não termos, ao menos neste show, a presença do tradicional naipe de metais, que contava com músicos de apoio no trompete e trombone e o saxofonista/flautista goiano Horton Macedo, que não pôde se apresentar, devido a um recente acidente automobilístico, mas ainda assim, estava na plateia e subiu ao palco para agradecer e ser homenageado. Horton é motociclista e costuma cruzar o país sobre duas rodas. Esperamos de verdade que se recupere logo.
Luciano PP, Jackson Costa, Bazé e Diro Oliveira. Foto: Marcelo Lopes |
A presença do ator Jackson Costa recitando poemas já não era novidade entre os fãs. Agora ele aparece como membro fixo da banda, inclusive no VT de apresentação e no flyer do show. É indiscutível sua habilidade de prender a atenção do público em suas intervenções, entre algumas músicas, com poesias dentro da temática defendida pelo grupo e, até mesmo, fazendo um duo de pandeiro com o percussionista Emílio Bazé. A união de música e poesia faz da apresentação da Café com Blues um verdadeiro espetáculo, que poucos artistas são capazes de sustentar.
A parte da banda que segue firme desde o início, sem mudar de lugar, traz o guitarrista Lucinho Ferraz, que agora também assume a viola caipira (antes por Julio), o grande baixista Luciano PP e o bandleader Diro Oliveira, gaitista, flautista e vocalista. Sua gaita agora é menos presente e sua flauta, ao menos nesta apresentação, fez as honras de seu instrumento principal, especialmente por dividir com Fábio os temas que antes eram executados pelos metais. Seu vocal também abandonou de vez os drives, característicos desde quando começou a se aventurar aos microfones, durante os tempos de MPBlues. Ao dividir os vocais com seu irmão Thomaz, percebe-se claramente a semelhança de timbres.
O repertório trouxe algumas novas canções, que sairão no segundo álbum do grupo. Conversando com alguns integrantes, percebi que já faziam aproximadamente dois anos desde a última apresentação, o que soa completamente absurdo tratando-se de uma banda de tal nível. Neste show percebe-se a inevitável "evolução" criativa que qualquer grupo ou artista solo sofre: a sonoridade da Café com Blues se distancia cada vez mais do blues e se aproxima a passos largos da música nordestina. Alguns temas me remeteram aos bons tempos de Elba Ramalho, Alceu Valença e ouvi pessoas da plateia explicando umas às outras que aquilo era uma "mistura de rock com forró". É assim que funciona: as pessoas são como as ondas de Tim Maia e não são obrigadas a fazer sempre as mesmas coisas. Nem deveriam sequer pensar nessa possibilidade.
Uma grande apresentação, bem diferente do que foi apresentado nos primeiros anos da banda, mas dez anos não são dez meses. A Café com Blues já atravessou uma geração e, esperamos, tem muita estrada pela frente. É sempre inspirador assistir a um show desses caras. Se você não estava lá, guarde bem um espaço na sua agenda para quando anunciarem o seguinte. No próximo domingo, encerrando o evento, teremos a Distintivo Blue, às 19h. Nos vemos lá.
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Publicado originalmente em 31/10/2016 na BLUEZinada!
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