Ao
fazer música, o ruído e o som se opõe e se misturam. A música é, em sua origem,
a extração do som oriunda de um ruído, logo, no Agosto de Rock, não há ruídos.
Existem, a priori, ondas que vibram corpos, que transmitem-se pela atmosfera,
que são interceptadas por nossos ouvidos, interpretadas e decodificadas por
nosso cérebro. Eis que surge a música! O som é, assim, o movimento em sua
complementaridade; produto de uma sequência rapidíssima de impulsões e
repousos. ( Neste caso, a Headhunter contraria qualquer lei física ou
musical, pois em suas músicas não há repousos. )
Por
Clara Carolina
claracarolina@tudoaver.com.br
Fotos: Pablo Luz pabloluz@tudoaver.com.br
Fotos: Pablo Luz pabloluz@tudoaver.com.br
HeadHunter D.C
Cantar
em conjunto com o Tihuana o "Por que será?", dar saltos hulkianos com
a D'P, afinar as vozes guturais com o Cobalto na cover do Machine Head e com a
Koriza na cover de "I don't wanna hear it", achar os intervalos
musicais da Lacertae significa entrar em acordo profundo e não visível sobre a
intimidade da matéria, produzindo como
num rito, contra todo o ruído do mundo, um som constante.
No Agosto de Rock não há falta de ordem, pois um único som afinado cantado em
uníssono insemina no universo um princípio de ordem. É preciso um, e tão
somente um, som afinado cantado por um grupo humano (diga-se de passagem um
grande grupo) para adquirir-se o poder de evocar uma fundação cósmica: o Agosto
de Rock, dessa forma, oferece-se como o mais intenso modelo utópico da
sociedade harmonizada e ao mesmo tempo a mais bem acabada representação ideológica
de que nela não há conflito porque existe a música.
O
som e o ruído constitui a música. O mundo apresenta-se para nós tal qual as
frequências irregulares de Nancyta ou caóticas da Mukeka di Rato nas quais a
música, entidade não decodificada pela língua, extrai-lhe uma significação.
Acontece do mesmo modo com a voz, quando de repente produz-se e sustenta um som
de altura definida e remete a fala para outro lugar: o paradigma das
alturas contínuas produzido pela Barulhinho Bom ou pela Iracema Miller (grande
talento!), não codificado pela língua, com toda estranheza que isso implica.
Este foi o Agosto para todos os gostos do Rock. E que venham os próximos!
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Matéria salva em 27/08/2003 em Word por Plácido Oliveira.
Confira as fotos da época clicando na imagem abaixo:
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