Embora pareça um disparate iniciar um texto sobre educação com referências logo ao apresentador Fausto Silva (considerando-se a forma como Faustão se dirige aos convidados de seu programa dominical), é possível, sim, traçar alguma ponte entre suas palavras e alguns tópicos da situação presente. O estudante universitário Robson Costa, atualmente no 5º semestre de Economia da Uesb, pensa de forma semelhante ao rei dos domingos globais, só que com relação ao vestibular. "O vestibular é injusto, assim como o restante da sociedade em que ele está inserido". Quando questionado sobre a eficiência do vestibular como forma de ingresso no ensino superior, Robson afirma que não se trata da alternativa ideal. O fato de excluir uma grande quantidade de concorrentes surgiria, então, como um dos principais agravantes. "Visto que é apenas uma minoria que consegue entrar na Universidade, o vestibular não é muito democrático". O estudante reconhece, no entanto, não conseguir visualizar nenhum outro método que o substitua e compense suas deficiências.
Há também uma outra questão polêmica, ainda no campo da eliminação de candidatos. O alto preço cobrado pelas universidades, para que sejam efetuadas as inscrições, já atua como forma eficiente de exclusão ainda que alguns julguem "involuntária" e "inevitável". Robson diz conhecer várias pessoas que deixaram de prestar vestibular. "não por falta de vontade, mas porque não têm dinheiro para arcar com as despesas", ressalta o candidato a economista. Além do preço, outros fatores atuam como forças componentes do que se poderia chamar de "darwinismo sócio-educacional". A péssima qualidade da maioria das escolas públicas (frequentadas majoritariamente por estudantes que nem se aproximam das chamadas classes A e B) faz com que boa parte dos que passaram por este tipo de instituição obtenham maus resultados num possível vestibular. As vagas acabam sendo preenchidas pelos que foram agraciados pelo destino com ascendências bem providas, financeiramente. Robson cita ainda outras problemáticas referentes ao impasse das cotas destinadas às minorias. Embora possa ser citada como uma solução paliativa e imediata, a política de cotas é descrita pelo estudante como "uma tentativa frustrada de corrigir a dívida histórica que a sociedade tem com as minorias".
Assim sendo, nota-se que questões urgentes solicitam discussões de igual importância, às vezes com elementos inusitados. O problema educacional no Brasil transmite a impressão de que não há como resolver, mas não é nada interessante que tal opinião se alastre. É preciso buscar espaços para a discussão. Mesmo que a discussão se dê entre um estudante universitário do interior da Bahia e um rotundo e milionário animador de auditório.
Gil Brito
------------------------------
Publicado originalmente em Reconquista - Ano I nº 02 - Novembro de 2006.
Publicado originalmente em Reconquista - Ano I nº 02 - Novembro de 2006.
Nenhum comentário: