Por Marcelo Lopes
O Festival de Inverno Bahia divulgou no dia 01/06 a programação completa do evento em 2015, que acontecerá entre 28 e 30 de agosto. Passarão pelo palco principal artistas consagrados pelo público como O Rappa e o seu atual trabalho, “Nunca Tem Fim…”; Frejat e sua pegada pop rock; a cantora e compositora Ana Carolina; o multi-instrumentista, cantor, compositor e escritor gaúcho Humberto Gessinger; e os mineiros cheios de suingue do grupo Jota Quest. O FIB abre o palco ainda para as estreias de Ivete Sangalo, premiada como melhor cantora do Carnaval 2015, e as bandas RPM, sob o comando do músico Paulo Ricardo, e Blitz, que fará no mês seguinte a abertura do Rock In Rio/Palco Mundo, ambos ilustres representantes da safra anos 80; a grade fica completa com a dupla Fernando e Sorocaba, com um show que mescla tecnologia, ilusionismo e efeitos especiais.
A variedade de perfis artísticos que compõe a grade do evento em edições anteriores tem sido, no mínimo, controversa, embora isso não apague de forma alguma o sucesso comercial da iniciativa. Vejamos o porquê disso.
Se o Festival de Inverno Bahia nasceu da exploração de um potencial para espetáculos musicais que não era mais atendida na região de Vitória da Conquista após o fim de experiências como o Agosto de Rock (2001-2003) e outras iniciativas locais que primavam por estruturar espaços alternativos à indústria do Axé, do sertanejo e de outros ritmos afins, nos últimos anos o projeto tem tentado se equilibrar entre essa herança e o discurso comercial da mistura.
Isto trouxe para dentro do FIB algumas atrações antes alienígenas (como Durval Lélis, por exemplo) e uma progressiva inclusão de duplas sertanejas e shows de axé, usando de uma fórmula tensionada que quer aproximar o perfil do evento ao vale-tudo programático do seu coirmão, o Festival de Verão de Salvador. Ambos produzidos pela Rede Bahia e realizados por meio da sua principal empresa promotora de eventos, a Icontent, os eventos, embora ligados, têm, no entanto, demandas bem específicas, próprias das características de cada região.
O aparente esforço em fazer de uma a cópia ou extensão da outra, no exagero em querer misturar demais, trouxe críticas de público para algumas edições pela perda de características que tornaram o FIB um evento de destaque no segmento pop rock no Nordeste, negando, inclusive, o legado local que originou a proposta.
Outra questão cada dia mais clara é que, apesar do potencial artístico e agregador de investimentos que aquece a economia da cidade no período, o Festival não aposta mais como antes. Nas primeiras edições, o FIB abria espaços para artistas em períodos de ascensão (como Malu Magalhães, Dani Carlos e O Teatro Mágico, ente outros), mostrando uma preocupação em investir em novas propostas comerciais do segmento e estimular seu crescimento, até mesmo para benefício do próprio evento. Hoje, o projeto prefere se limitar a repetir na programação nomes (que, embora ótimos) já fazem o público entoar um sonoro “de novo?”, como Capital Inicial, Bikini Cavadão e Titãs. Mesmo este ano, a sensação de déjavù persiste em atrações como O Rappa, Jota Quest e Frejat. Por que não Rita Lee, Djavan ou mesmo o show dos 50 anos de carreira de Caetano Veloso e Gilberto Gil?
Insisto, como já insisti antes em outras considerações sobre o Festival, que há uma infinidade de artistas que hoje despontam no cenário brasileiro: Tulipa Ruiz, Móveis Coloniais de Acaju, Baiana System e Casuarina são alguns desses nomes que além de talentosos, são muito populares. A ótima banda baiana Scambo, que faz parte hoje do programa Super Star, da rede Globo, tem talento de sobra pra ocupar o palco principal. Sem falar, que já existe, há bastante tempo, um know-how que garanta ao evento o cacife para bancar uma primeira atração internacional, o que até hoje não foi cogitado.
É possível dizer, por fim, que o Festival de Inverno Bahia, com seus altos e baixos na programação, ainda é, sem dúvida, um dos maiores eventos do gênero no Norte-Nordeste do país. Só precisa, de vez em quando, dar uma sacudida e ter uma atitude mais rock n’ roll pra garantir que mostra, de fato, a que veio.
Maiores informações sobre o FIB, acesse
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Publicado originalmente em 02/06/2015, em Sintoma de Cultura.
Comentários
Plácido Mendes commented on a link.
23/06/2015
É um evento comodista para um público essencialmente comodista, que não liga para música, e sim para a "balada" em si. Não há mais um mínimo de ousadia em nada que tenha algum dedo da Globo, conhecida por espremer a laranja até a última molécula de suco (vide o decadente BBB, que sobreviveu por uma década e meia, mesmo após perder relevância). O que se vê hoje é um enorme grupo de produtores e executivos covardes e medrosos contribuindo para o próprio fim, ao não renovar o cenário. Bem, os artistas independentes continuam correndo atrás e empreendendo enquanto fazem seus nomes, sem rabo preso e dever favores a ninguém.
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