Foi com sucesso, com a participação de cerca de 40 pessoas, que o tema “A História da Música Brasileira” encerrou as atividades do ano 2019 dos saraus realizados no Espaço Cultural A Estrada. O músico, cantor e compositor Alex Baducha falou sobre o assunto, com pontuações e considerações do professor Itamar Aguiar, Clovis Carvalho, Benjamim Nunes, jornalista Jeremias Macário, dentre outros presentes no evento.
Em seu formato, o “Sarau A Estrada”, que completou nove anos de existência, sempre é aberto com um tema principal, seguido de cantorias musicais, declamações de poemas e causos. O do último sábado (dia 07/12) seguiu nessa mesma linha, num clima descontraído e fraternal de final de ano onde todos colaboram com bebidas e comidas. O diferencial deste último do ano foi a presença de muita gente nova que frequentou o sarau pela primeira vez e saíram entusiasmados com o que viram, prometendo retornar nos próximos em 2020, quando completará dez anos.
Sempre recebidos pela anfitriã Vandilza Gonçalves, a noite cultural varou a madrugada aos sons da viola do cantor, poeta e compositor Walter Lajes, além de Jaime Kobra e a cantora Marta Moreno. Alex Baducha também apresentou suas cantorias na abertura dos trabalhos. Os causos ficaram por conta de Jhesus e Nunes. A atriz Edna Brito declamou um poema de Laudionor Brasil.
Tivemos ainda as presenças de Evandro Gomes e sua esposa Rozânia, Jovino Moreira, Tânia Gusmão, Rosângela Oliveira, João Bezerra, Céu, o fotógrafo José Carlos D´Almeida, Neide, professora Guiomar, José Carlos, Lucas de Carvalho, Geovana, Geovany Cordeiro, Sarah Carvalho, Clovis Bulhões, Richardson, Caroliny, Clélia Bulhões, dentre outros. Todos curtiram o evento cultural e tiveram participação ativa nos bate-papos, acompanhados do vinho, de umas cervejas geladas e tira-gostos de salgados e galinha caipira.
A música brasileira e suas origens
O palestrante da noite, Alex Baducha, fez um longo apanhado sobre a grandiosidade da música brasileira e suas origens. Em seu trabalho de pesquisa destacou que a A música do Brasil é uma das expressões mais importantes da cultura brasileira. Formou-se, principalmente, a partir da fusão de elementos europeus, indígenas e africanos, trazidos por colonizadores portugueses e pelos escravos.
Até o século XIX, de acordo com seu estudo, “Portugal foi a principal porta de entrada para a maior parte das influências que construíram a música brasileira, tanto a erudita como a popular, introduzindo a maioria do instrumental, o sistema harmônico, a literatura musical e boa parcela das formas musicais cultivadas no país ao longo dos séculos, ainda que diversos destes elementos não fossem de origem portuguesa, mas genericamente europeia. A maior contribuição do elemento africano foi a diversidade rítmica e algumas danças e instrumentos, a exemplo do maracatu, que tiveram um papel maior no desenvolvimento da música popular e folclórica. O indígena, praticamente, não deixou traços seus na corrente principal, salvo em alguns gêneros folclóricos de ocorrência regional.
A partir de meados do século XVIII se intensificou o intercâmbio cultural com outros países além da metrópole portuguesa, provocando uma diversificação, como foi o caso da introdução da ópera italiana e francesa, das danças como a zarzuela, o bolero e habanera de origem espanhola, e das valsas e polcas germânicas, que se tornaram vastamente apreciadas. Com a crescente influência de elementos melódicos e rítmicos africanos, a partir de fins do século XVIII, a música popular começou a adquirir uma sonoridade caracteristicamente brasileira, que se consolida na passagem do século XIX para o século XX principalmente através da difusão do lundu, do frevo, do choro e do samba.
No século XX verificou-se um extraordinário florescimento tanto no campo erudito como no popular, influenciado por uma rápida internacionalização da cultura e pelo desenvolvimento de um contexto interno mais rico e propício ao cultivo das artes. É o período em que a música nacional ganha também em autonomia e identidade própria, embora nunca cessasse, e de fato crescesse, a entrada de novas referências estrangeiras.
A produção de Villa Lobos é o primeiro grande marco do brasilianismo musical erudito, mais tarde desenvolvido por muitos outros compositores, e combatido por outros, que adotam estéticas como o dodecafonismo e mais tarde a música concreta e a música eletrônica.
No mesmo período, a música popular ganha o respeito das elites e consolida gêneros que se tornaram marcas registradas do Brasil, como o samba e a bossa nova, ao mesmo tempo em que o rock e o jazz norte-americanos são recebidos no país com grande sucesso, adquirem feições próprias e conquistam legiões de fãs. Gêneros regionais de origem folclórica como a música sertaneja, o baião, o forró e vários outros também ganham força e são ouvidos em todo o território nacional”
Músicas da época da ditadura
O jornalista e escritor Jeremias Macário fez algumas intervenções citando curiosidades da Bossa Nova, do Tropicalismo e da Jovem Guarda, destacando, principalmente, as músicas do período da ditadura civil-militar de 1964 a 1990. Para driblar a censura, Macário apontou as músicas “Apesar de Você”, de Chico Buarque (1970), que muitos imaginaram se tratar de uma briga de casal, mas fazia referência a uma possível queda dos militares.
Outra música de protesto muito conhecida que virou hino na boca dos estudante foi “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores”, de Geraldo Vandre (1967), que lhe valeu um exílio na Europa. Também ressaltou “O Bêbado e a Equilibrista”, de Aldir Blanc e João Bosco (1975). “Cálice”, de Gilberto Gil e Chico Buarque foi outra que denunciou o sangue derramado pelos torturados nos porões da ditadura. Foram ainda destaques “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso (1967) e “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”, de Roberto e Erasmo Carlos (1971), em homenagem a Caetano Veloso.
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Publicado originalmente em 11/12/2019, no Blog do Paulo Nunes.
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